Nascimentos Naturais
Todos os povos originários do cosmos desenvolveram seus próprios valores, suas próprias práticas, habilidades, atitudes, crenças, técnicas e práticas médicas tradicionais; e não poderia ser de outra maneira porque todos eles desenvolveram a capacidade de dar uma explicação sobre a iniciação do Omopuã Pacha, a Mãe Cósmica e a Mãe Natureza, ligada a seus problemas e suas soluções.
Neste projeto colocou-se em posição de destaque a cultura Guarany Anhangatu amazônica. Nela se originou a Medicina Transcendental Feminina. A caraterística mais importante e interessante dela é a medicina do Patuá da Mãe d’Umbigo Raizeira, Ka’ripu Y’Pyruá Sy, e da Mãe d’Água, Y’Sy (prenha), originárias da árvore genealógica espiritual e energética da Olho d’Água, Oty Ory.
A Olho d’Água é a prenha nua com sua transcendência, sua sensibilidade, flexibilidade, elasticidade e dilatação na pélvis. A prenha da floresta tropical amazônica da época áurea pegava e aparava a Evyrumitã, a recém-nascida, sentada na beira dos fluidos do rio junto à irmã árvore.
A filosofia religiosa intervencionista, abstrata, violenta, agressiva, escravista e explosiva teve oportunidade de se integrar às comunidades originárias da Terra Sem Males, mas sempre insistiu em se apresentar como única ciência divina de caráter universal.
O resgate, a revalorização e a integração da energia e espiritualidade da Olho d’Água, da medicina prática da Mãe d’Umbigo Raizeira e da Mãe d’Água no vasto território brasileiro, como a medicina itinerante Kallawaya na Bolívia, nos permitirá recolocá-la a serviço da comunidade como um meio importante para assegurar o resguardo espiritual, a assistência à energia humana e à vida integral de prevenção e de cura. São poucos os países e os estados que oficialmente admitem e aceitam a existência de uma medicina pluralista energética e espiritual integrada à comunidade.
A cultura moderna contemporânea não deveria perder a oportunidade de se integrar às práticas médicas energéticas e espirituais da Terra Sem Males, à cultura da Mãe Cósmica e da Mãe Natureza, constituída em sua integridade pela energia, pela sensibilidade, pela flexibilidade, pelo relaxamento, pela solidariedade, pela formosura da ferocidade e da agressividade, pelo imaginário, pelo instinto, pela intuição, pelos sonhos e pela universalidade, em que as relações tempo-espaço e o erguer-se e o movimentar-se são integradas.
A medicina cosmopolita, ao invés de tomá-las como referência, consideram-nas obstáculos econômicos, empecilhos artificiais e estruturais; assim sendo, pela imposição de normas e leis de cima para baixo, vai dificultando as suas práticas, perseguindo e vitimizando o ventre de sua ancestralidade feminina.
As práticas energéticas e espirituais tem se demonstrado eficientes. Falar em sua desintegração parece até ser desrespeitoso porque elas existem desde que se tem conhecimento do fogo, do ar, da água e dos Honis, parentes instintivos da flora e da fauna amazônica.
Elas não sofrem de pandemia da “cultura iatrogênica, da iatroquímica e do ranço custo-benefício médico”, e não são uma panaceia. A terapêutica da Omopuã Pacha é um poderoso método profilático energético e espiritual, curativo e natural no que se refere à harmonização e à sincronização da Força d’Alento Espiritual Energético no organismo sensorial feminino.
A medicina natural da Mãe d’Umbigo Raizeira e da Mãe d’Água, recorrentes em toda a extensão da Amazônia etnográfica e nas zonas rurais e urbanas, constitui-se, hoje, uma medicina economicamente válida para uma maioria amordaçada e silenciosa.
Através das experiências obtidas pelas Olhos d’Água, as Mães do Rio, as mama’es da época áurea, pelas Mães d’Umbigo Raizeiras, pelas Mães do Ventre Materno e pelas Mães d’Água resgata-se a essência cultural, espiritual e energética amazônica da Terra Sem Males (hoje, América Latina).
A arte e a cultura do Patuá da Mãe d’Umbigo Raizeira e do Patuazinho da Mãe d’Água seriam, na prática, a valorização e a integração do ciclo de Força d’Alento Energético. O fluido espiritual do campo eletromagnético do ventre feminino abrange os rituais de iniciação da Oguapy (ovulação e menarca), a fecundação, a concepção, a prenhes, o renascimento da Mãe d’Água, o nascimento da(o) Brotinha(o), o resguardo e a amamentação.
Na atualidade, não se tem a sensitividade e nem a sensibilidade da transcendência energética e espiritual da continuidade e da totalidade dos ciclos naturais da menina-mulher e da Mãe d’Água, não lhes permitindo sincronizar-se e harmonizar-se com o tempo e com o espaço do Universo energético finito.
Desde o início, as prenhas eram convenientemente acompanhadas e assistidas dentro de uma sabedoria cronologicamente e extraordinariamente elaborada pela Mãe do Centro, a Mãe d’Umbigo Raizeira. Pelos seus métodos profiláticos e pelas soluções apresentadas por elas, constatava-se um baixo índice de mortalidade infantil e materna.
As Mães d’Umbigo-Raizeiras nunca extinguiram os fluidos da “grande chuva” proveniente da ‘Olho d’Água’ (vagina) nem o “fogo escaldante”, a Mãe do Fogo, as práticas-rituais primordiais da etnia Olho d’Água. Unem à terapêutica de prevenção e de cura, sua rica fonte de superstições e de crenças, associando-as, por sua vez, ao conhecimento que elas tem acerca das influências lunares sobre os organismos úmidos ou molhados.
Reintegrar a terapêutica da Omopuã Pacha ao Universo eletromagnético das formas femininas significa para nós recolocar a embira, o cordão umbilical milenar amazônico, no seu lugar de origem, onde flui a sabedoria dos rios, onde se escuta o grasnido das aves, o zumbido dos insetos, o coaxar dos sapos, o guizo das serpentes, ou seja, os gritos, o rosnar e os chiados dos parentes espirituais, os Honi, e o entoar da Aliptanha Pachakutij, a transcendência espiritual e energética dos povos originários amazônicos e andinos.
Y’Mborat’e, o entoar, o sonar dos fluidos energéticos e os sons do Pya’hu, o coração novo da criança e da espiritualidade amazônica, jamais deveriam ter sido silenciados e adormecidos pelos especialistas e técnicos medíocres que seguem abusando deliberadamente das vontades superficiais e das “fraquezas” artificiais femininas, como o incentivo às cesáreas abomináveis e aos trabalhos de partos mecanizados.