A Olho d’Água a Prenha Aura Amazônica
Nascimentos de Assento no Rio
A valorização e a prática da transformação
Energética da pélvis flexível da Olho d’Água,
Aquecida por uma luz espiritual.
Na época áurea existia uma irmã árvore e
Um ente total à beira dos fluidos do rio.
Esse ente-único estava cheio de vida.
Todas as existências possíveis pairavam sobre ele,
O tempo e o espaço, o ar-livre, constituíam o
Aconchego desse ente cheio d’água.
Iluminado pela Jaxy Ovoguaçu,
Lua Cheia, nos rios, esse ente
Chamava a si mesmo de
Olho d’Água, pressentindo fortes dores.
Sentava-se à beira do rio.
Muitas vezes, lançava gritos
Agudos que, aos poucos,
Transformavam-se em soluços.
Logo se ouvia o choro da
Y’Agury Kapi-aí, a semente que
Estava dentro das águas na
Plenitude de seu movimento.
Pegava-a fazendo
Movimentos da
Força d’Alento Espiritual,
Amarrava o cordão umbilical com
Embira e cortava-o com os dentes.
Inclinando-se, bebia das águas,
Entravam no rio e se banhavam juntas.
A Olho d’Água soltava-a na água,
Cantando: Xe Py’a Hu, Xe Py’a Hu,
Meu novo coração, meu novo coração.
Assim, emergia em sua plenitude um
Novo ente, a Olhinha d’Água, Evyrumitã.
A realidade cosmogônica da transformação étnica da Olho d’Água da Ilha Fluvial das Cobras constitui-se numa grande fonte de transformação, de iniciação e de continuidade da Mãe d’Umbigo Raizeira e da Mãe d’Água, as quais ensinam de boca perfumada a origem primordial da etnia dos fluidos das águas.
O renascimento da Olho d’Água e o nascimento universal da Y’Agury Kapi-aí, criança, nos cativam com as suas harmonias ancestrais, com as suas formosuras, com as suas belezas, por serem fenômenos naturais e espirituais em que se apresentam os mais profundos mistérios da Mãe Natureza.
A mulher-mãe dos fluidos das águas representa a energia e a espiritualidade, a universalidade das qualidades. Como a energia e a espiritualidade não são visíveis, e como não se percebe em sua totalidade o que a Olho d’Água expressa, acabam restando mistérios, segredos na nossa imaginação. A nossa ‘imaginação infantil’ não chega a abranger onde começa e termina a energia primaveral da Mãe do Rio.
A Mãe do Rio é um todo que nós não conhecemos: vislumbramos coragem; nossa fantasia se exalta com o pressentimento maravilhoso da luz espiritual da Olho d’Água.
A Mãe do Rio participa de todo o processo de concepção, da ideia da criação, da arte, da forma de dar à luz e da maneira de dar contornos à formosura da ferocidade e da agressividade, sem deixar de ser ela mesma.
As Olhos d’Água em seu fluxo prático tem experimentado dar à luz milhares de vezes, criando formas reais e sensíveis para o nascimento da Y’Agury Kapi-aí, sem nunca terem procurado nele uma razão religiosa.
A forma da Y’Agury Kapi-aí existe no ventre da Mãe do Rio. A alma ocidental não consegue vê-la, percebê-la, nem a realiza-la, mas pode inventá-la, criando um feto totalmente desvirtuado, fantasioso, à figura, à imagem e à semelhança do civilizado.
A forma concreta da Y’Agury Kapi-aí é algo misterioso, poético, artístico, criativo, indefinido, belo, e dá seu último toque ao renascimento e ao nascimento espiritual.
A Mãe do Rio e a metafísica se roçam, se encostam com os fluidos da imaginação. Assim, se faz possível a aliança da verdade, da formosura dos fluidos, da ciência natural, da arte, do espírito e da criação da Olho d’Água.
O Universo aberto espiritual é o começo e o fim mais elevado da arte do pensamento da Olho d’Água. O renascimento é o seu início e o nascimento, o seu fim.
O Universo demonstra que a intuição e o pressentimento dos fluidos são mais universais, mais transcendentais, mais profundos que a inteligência civilizatória.