Amuletos - Patuás
O Grande Patuá da Mãe d’Umbigo
O Pequeno Patuazinho da Mãe d’Água
Os Patuás, amuletos, são considerados ‘organismos viventes’ que são utilizados para os rituais de renascimento da Mãe d’Água e para o nascimento da mitã. Eles recepcionam as energias cósmicas provenientes do céu-fogo e da terra-água.
Na época áurea, segundo a velha verdade, a Olho d’Água realizava os nascimentos à beira do rio, tendo ao seu lado a irmã árvore. Para a realização dos nascimentos em casa, a irmã árvore foi transformada em Patuá e os fluidos do rio e a Olho d’Água foram transformados em Mãe d’Água, surgindo, assim, uma nova verdade. Essa transformação foi realizada pela Mãe d’Umbigo Águida.
Grandes poderes energéticos eram creditados às árvores, os Patuás. Elas eram consideradas grandes mediadoras entre a Mãe Cósmica e a Mãe Terra porque a copa das irmãs árvores sempre se encontram dispostas em direção à Mãe Cósmica, ao Universo e as suas raízes se encontram distribuídas dentro da Mãe Terra.
Nos nascimentos em casa, o Patuá e o Patuazinho se interligam aliviando a dor da Mãe d’Água, relaxando a sua tensão e fortalecendo a sensibilidade e os poderes da Força d’Alento Espiritual da Mãe d’Umbigo Raizeira.
Nas cerimônias de nascimento através das águas e do fogo, as Mães d’Umbigo utilizavam o Grande Patuá e a Mãe d’Água, o Patuazinho. Utilizava-se, também, o Grande Raio Cósmico incorporado no Cepinho do Raio, Anel de Madeira.
O Cepinho do Raio, assento feito de tronco de árvore, a sacha atingida pelo raio, servia de mediador entre o fogo e a água; ele aliviava a dor espiritual da Mãe d’Água. O renascimento da Mãe d’Água era essencialmente considerado um fenômeno do universo energético aberto e espiritual.
O campo magnético dos Patuás é regido por leis imutáveis e intangíveis, os quais colaboram na transcendência do TU’ positivo da Mãe d’Água e do P’UY negativo da Mãe d’Umbigo, polos opostos complementares que fluem na Mãe Natureza e na Mãe Cósmica.
Os Patuás fazem parte dos valores práticos energéticos da concepção e do nascimento. Na medicina itinerante kallawaya andina, o processo de diagnóstico apresenta-se ligado à transmissão energética de puro pensamento, realizada de geração a geração. Com a Mãe d’Umbigo e a Mãe d’Água ocorre um tipo similar de transmissão de pensamentos, através dos Patuás que as mantem interligadas.
Durante a transcendência, entre o Patuá da Mãe d’Umbigo e o Patuazinho da Mãe d’Água gera-se um campo magnético que torna possível a transmissão de puro pensamento. A comunicação é realizada mentalmente, sem palavras, e o Toque instintivo ajuda a tornar mais íntima a ligação entre elas.
O Toque é a sensitividade instintiva mais básica, não conceitual, de comunicação energética desenvolvida pelas Mães d’Umbigo Raizeiras para perceber a descida da Y’Agury Kapi-aí, para receber, conter e aparar a Evyrumitã, a recém-nascida, mitã .
As Mães d’Umbigo realizavam o Toque sensitivo de uma maneira suave e flexível. Os fluidos e as vibrações energéticas da Mãe d’Água valorizam as práticas do Toque instintivo em toda sua complexidade e simplicidade, e inspiram valor ao campo magnético do ventre feminino.
O grande Patuá da Mãe d’Umbigo energizava, neutralizava e purificava toda força energética não conveniente como a Pancada do Raio, energia perversa, e as perturbações emocionais da Mãe d’Água.
A Mãe d’Água, ao utilizar o Patuazinho, tornava-se receptiva à energia proveniente da Mãe d’Umbigo. A mama’e passava a ser nutrida por um poder espiritual que fortalecia a Piraguaçu, Mãe do Corpo (matriz), onde se encontrava a Y’Agury Kapi-aí.
As preparações dos Patuás eram feitas artesanalmente pelas Mães d’Umbigo e a arte de confecção era passada de geração a geração. Durante a elaboração e a composição dos Patuás, o ritual de preparação se estendia por vários dias, e dependendo da Mãe d’Umbigo, eram colocadas “essências energéticas” dentro dos Patuás.
Primeiramente, escolhia-se o material empregado para sua elaboração: taquara, bambu, couro, pano de algodão cru, louro, alho, etc. Escolhido o material, a Mãe d’Umbigo recolhia-se por uns dias para a criação da forma e do significado que seria dado aos Patuás.
Após a seleção do material, as formas dos Patuás eram criadas. Escolhido o nome, a forma e a cor, elegia-se o desenho que seria feito no Patuá. O desenho era bordado, entalhado ou gravado. Era também tecido o cordão de embira ou de algodão para ser utilizado como suporte.
Nome dos Patuás | Forma |
Sol da noite | quadrada |
O retorno | cilíndrica |
O encontro | triangular |
Lua do dia | retangular |
Qualquer que fosse o formato, a cor e o desenho, o Patuá era feito em dois tamanhos diferentes. O Grande Patuá ficava com a Mãe d’Umbigo e o Patuazinho era passado para a Mãe d’Água. O Grande Patuá tinha aproximadamente o dobro do tamanho do Patuazinho.
Elaborados a forma e o tamanho, primeiramente, eram introduzidos essências energéticas e outros elementos como pedrinhas, tronquinhos, alho, arruda, louro, neles. E então, dava-se início ao fechamento dos Patuás. Classicamente, costuravam-se as bordas, dando-lhes a forma de uma almofadinha. Colocava-se, por último, o cordão de embira ou de algodão para serem pendurados no peito juntinho ao coração, Py’a. Finalmente eram defumados de acordo com a forma e o estilo de cada Mãe d’Umbigo. O Patuá e o Patuazinho eram defumados com um tipo diferente de erva, de acordo com a sabedoria de cada Mãe d’Umbigo.
Ambos tinham uma incumbência a cumprir: o Grande Patuá ficava com a Mãe d’Umbigo e acompanhava-a em todas as cerimônias que ela assistia e o Patuazinho era entregue pela Mãe d’Umbigo à Mãe d’Água quando esta a procurava para pedir orientação e assistência. Muitas delas procuravam a Mãe d’Umbigo desde os primeiros dias de sua prenhes. Assim, ambas estariam juntas desde o início da transição até o fim do resguardo da Mãe d’Água.
A escolha da matéria-prima, do formato, da cor e do desenho era determinante, possibilitando, então, a identificação das diversas Mães d’Umbigo através de seus respectivos Patuás. Neles se mantinham o poder da realização dos conhecimentos e do ritual prático da elaboração.
As práticas eram transmitidas de uma experiente Mãe d’Umbigo para uma Mãe d’Água; e para poder cumprir sua função ela necessitava ser fecunda e umedecida. Assim, ela poderia continuar com a arte de renascimento da Mãe d’Água e do nascimento da mitã.
Quando a Mãe d’Umbigo falecia, os Patuás iam embora junto com ela porque os Patuás eram exclusivos de sua sabedoria e a identificavam como Mãe d’Umbigo Raizeira.