A Terapêutica da Mãe Cósmica e da Mãe Natureza
Omopuã Pacha
Erguer-se, levantar-se e movimentar-se
Integrar as medicinas originárias é uma experiência profunda, emanada dos fenômenos das Grandes Águas, “Paraná Guaçu”, onde nasciam os entes ao princípio quando o Sol e a Lua iluminavam as “águas de alcance Universal”, numa “Terra Sem Males”, chegando mesmo a ultrapassar os limites da fenomenologia física ocidental.
O objetivo desta pesquisa é experimentar integrar as medicinas naturais milenares, as quais se nutrem de uma rica fonte de superstições, da cultura da ferocidade, da agressividade, da paranormalidade, do sobrenatural, do supranatural e do princípio da incerteza, poderes e valores de suas próprias culturas. Experimentamos mostrar as práticas da medicina Itinerante Kallawaya, andina, e da medicina mestra do Patuá da Mãe d’Umbigo Raizeira e do Patuazinho da Mãe d’Água, amazônica (da etnia Guarany Anhangatu), e a sua evolução no desenrolar dos tempos.
Este pensamento tem um alcance sem precedentes por sua importância em nossa era globalizada, porque está dualidade complementar Mãe d’Umbigo e Mãe d’Água, trilharam secularmente e fluirão até nossos dias ressaltando aspectos metafísicos existenciais, ligando energeticamente e espiritualmente o mundo que existiu antes de nós e a o que existirá depois de nós.
São poucas as culturas que não perderam contato com o mundo transcendental, energético e espiritual,e que admitem a existência de um sistema pluralista unificado, a medicina energética, e a medicina natural, Omopuã Pacha.
Este estudo foi realizado entre as localidades chamadas Ilhas das Cobras e Água da Rocha, próximas à Serra dos Caripis Velhos, entre as fronteiras dos Estados brasileiros de Pernambuco e de Paraíba, de 1982 a 1992.
As Y’Pyiruá Sy, Mães d’Umbigo Raizeras e as Y’Sy, Mães d’Água, escolheram esse lugar para se esconder das implacáveis perseguições dos colonizadores civilizados, os quais as enlaçavam na mata e as enjaulavam até supostamente dominá-las. As Mães d’Umbigo Raizeras e as Mães d’Água são descendentes da cultura amazônica.
Neste projeto de pesquisa colocou-se em posição de destaque a cultura Guarany Anhangatu amazônica. Nela se origino a Medicina Transcendental Feminina. A caraterística mais importante e interessante dela é a medicina do Patuá da Mãe d’Umbigo Raizeira e da Mãe d’Água (prenha) originárias da árvore genealógica energética e espiritual da Olho d’Água, Oty Ory.
Nestes 10 anos de pesquisa de campo, ouvi, gravei, observei, anotei e realizei uma ampla revelação dos rituais de iniciação, supertições, conhecimentos, valores, crenças e práticas da medicina milenar do Patuá da Mãe d’Umbigo Raizeiras e do Patuazinho da Mãe d’Água.
Observou-se que todas as Y Sy, Mães d’Água, desde o início de sua gestação, eram convenientemente acompanhadas, dentro de um esquema cronologicamente e extraordinariamente intuitivo e instintivo pela Ypyrua Sy, Mãe do Centro ou Mãe d’Umbigo Raizera. Por essa razão, constatou-se um baixo índice de mortalidade infantil e materna por seus métodos profiláticos e práticas soluções da Mãe d’Umbigo.
Os nascimentos de assento noCepinho do Fogo (pedaço de tronco atingido pelo raio) se realizavam em casa, aPya’ hu, o coração novoera aparada quando descia pela Via Fluvial da Mãe d’Água, a maioria destes nascimentos eram bem sucedidas. Quando ocorriam complicações durante o processo ou sequelas, elas só contavam com seus próprios recursos ecológicos, fitoterapêuticos, farmacopeias e culturais.
Havia uma grande resistência das Mães d’Água, a prenha, para ir ao posto de saúde da região que se encontrava muito distante da comunidade. As Mães d’Água se queixavam que as tratavam mal, porque os “doutores” em sua maioria homens nunca tinham paciência com elas. “O doutor se zanga; ele quer que eu deite e empurre para frente. Como vou fazer isso, se a criança vai para meus peitos? Eu estava deitada e não podia me mover. Eles só queriam me trabalhar. Eu queria me sentar no Cepinho do Fogo para o coroinha descer e ser pego pela Mãe d’ Umbigo...”.
Com todas essas sequelas culturais ou iatrogenia cultural, que elas relatavam, tive que ser muito cauteloso ao tentar me aproximar das Mães d’Umbigo Raizeras e das Mães d’Água.
Foi de muita importância a minha origem Kallawaya, pois isso ajudou a suavizar a minha relação com a Mãe d’Umbigo e com a comunidade. Tive que explicar a razão da minha visita: conhecê-las e aprender com elas por possuírem técnicas diferentes e muitas vezes superiores às nossas.
As Mães d’Umbigo-Raizeras utilizavam os rituais, como técnicas de prevenção e de cura, junto com a sua rica fonte de superstições e crenças, associadas às influênciaslunares sobre os organismos úmidos ou molhados como os das Mães d’Água.
A importância da Mãe Cósmica e da Mãe Natureza para elas era fundamental já que colaborava de forma admirável e decisiva nosnascimentos e renascimentos em casa.
A essência primária para elas era chamada da Mãe Cósmica e da Mãe Natureza, em correlação direta com o Patuá e o Patuazinho, que continham um fluxo contínuo de mudança de energia e de espiritualidade.