Justificativa
Reconstituir o cordão umbilical que liga a Mãe d’Umbigo à Mãe d’Água é acordar a energia feminina na Pacas Mili, a cultura do círculo sagrado, e isso constitui uma árdua tarefa de todo ser que se identifica consigo mesmo.
A identidade feminina como os povos originários, Tairapé, perderam suas qualidades num processo histórico milenar de intervenção, repressão, destruição, controle e negação. Essa realidade é concreta e foi construída pela cultura machista com minuciosidade sendo sistematicamente aplicada desde a gestação das meninas-mulheres, mutilando-as brutalmente, discriminando-as e banindo-as do espaço e do tempo.
A total hegemonia da cultura e do modelo patriarcal contemporâneo estimulou, ao longo da história, a perda da essência feminina.
As experiências educacionais na saúde, nas práticas biomédicas e laboratoriais, como as laqueaduras, as episiotomias, as cesáreas, os abortos e as curetagens a sangre frio sem anestesia são alguns dos exemplos de como o sistema machista mantém o “STATUS QUO” na sociedade. O sistema machista destrui e controla a educação ao sistematizar as experiências pré-natais, sujeitando fisiologicamente, mecanicamente e Iatroquimicamente as mulheres.
A ciência se desenvolveu durante a Idade Média na Europa, quando os médicos ocidentais passaram a dominar o corpo de todos, inclusive o das mulheres. Os métodos concretos para a destruição das mulheres possuem inúmeros ângulos. Queremos destacar aqui o domínio mental e corporal que a medicina ocidental exerce sobre as mulheres. A medicina ocidental, transformando-se em ciência masculina, foi tirando as capacidades orgânicas e sensoriais das mulheres, excluindo-as e mutilando-as a ponto de fazê-las perder a feminilidade e a sua própria identidade cultural.
Em pesquisas baseadas no livro de medicina De humani corporis fabrica, de 1543, época da abertura de corpos e da descrição detalhada de pesquisa em cadáveres, pode-se observar que a imagem da mulher era vista como um homem invertido. Essa visão cultural do modelo patriarcal é ainda uma regra geral nas escolas de formações superiores. Essa visão se tornou o alicerce para o surgimento da medicina ocidental e para o nascimento das numerosas vertentes intelectuais como a psiquiatria, psicologia, filosofia, etc.
A lógica da mutilação dos corpos e a lógica da masculinização mental das mulheres caracterizam a histórica da dominação masculina e da substituição dos valores femininos pelos masculinos. Este tipo de informação e educação restringiram sempre as Medicinas Milenares, ”INOVADORAS”, diante do cotidiano contemporâneo. Experiências que podem contribuir para a comunidade são barradas por motivos preconceitosos, acadêmicos, teológicos, filosóficos, moralistas, psicológicos, econômicos, culturais energéticos e espirituais.
No universo de auto-afirmação, a hegemonia médica se faz presente nos diferentes espaços habilitados da institucionalidade, tanto no campo administrativo como nos serviços de assistências, onde as obstetrizes, “parteiras tituladas’’, e as psicólogas não têm vez. A iatrogenia cultural e a iatroquímica campeiam livres criando doenças que ultrapassam quaisquer estatísticas.
Isto se deve ao profundo abismointercultural e ao abismo institucional que se estende infinitamente entre as exiladas internas e os oligopólios acadêmicos e várias instituições de assistências como a Unicef (fundo das Nações Unidas para a infância) que ofereceram programas de “resgates” para “salvar parteiras”. Esse abismo atrai com espantosa rapidez as mulheres que procuram no mundo “mágico” sua sobrevivência, no entanto quase sempre são engolidas por estes programas e nunca conseguem manter ou resgatar a feminilidade, e menos ainda as qualidades culturais dos povos originários.